14/03/11

A geração dos pais das gerações, à rasca, da desenrasca e da rasca



Nunca me ouvirão dizer mal de qualquer geração mais nova do que a minha, pela simples razão que os meus pais já diziam que a minha era uma geração perdida e os meus avós já tinham dito o mesmo da deles.
Os pais são culpados, disso não tenho a mínima dúvida. É bom perceberem que estou a falar em termos gerais, porque há minorias, felizmente, que não fizeram tantos erros.
Todos quisemos facilitar a vida aos filhos, mas esquecemo-nos que quando facilitamos em demasia estamos a lixá-los e não a ajudá-los. Esquecemos que a super protecção nunca dá bom resultado, que não os torna independentes, torna-os ineficazes e que a independência dos filhos se vê na parte emocional e na financeira. Tínhamos, temos de responsabilizá-los, de mostrar-lhes que a vida se faz todos os dias, com escolhas, com opções e que delas depende o futuro deles.
A geração dos pais fez erros tremendos: pensou criar um mundo melhor e, se é verdade que tanta coisa neste país melhorou muito, é também verdade que nada de novo construiu na sociedade.
Fizemos o erro crasso de lhes dar perspectivas que já há muito não existiam. Dissemos-lhes que ter um canudo era o suficiente para terem bons empregos e bem remunerados. O que faltou dizer foi que isso só por si pouco vale, que há muito se fazem testes psicológicos para se arranjar um emprego, que nem sempre as melhores notas são suficientes para encontrar trabalho.
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Esquecemo-nos de dizer que trabalho é a palavra de ordem e não “emprego”. Esquecemo-nos de dizer-lhes que deveriam estudar e esforçar-se para conseguirem entrar nas faculdades públicas, porque entrar numa privada com notas de merda é o mesmo que ficar desempregado. Esquecemos de lhes ensinar que há variadíssimos cursos sem saídas profissionais e que não vale a pena continuar a escolhê-los, que o país não são só as cidades, nem o litoral.
Esquecemos de avisá-los que é a contestar e a pôr em causa o que lhes ensinam, os pais e a escola, que aprendem a melhorar. Esquecemos de dizer-lhes que na vida, a maioria das vezes, se começa por baixo com trabalho duro e só depois se consegue melhor. Esquecemos tanta coisa, porque queríamos o melhor para eles, porque não queríamos que passassem as dificuldades que tivemos.
Quando os ouço a falar ou a escrever, parece que para nós tudo foi facilidades. Era fácil arranjar emprego, mas é bom que tenham a noção que trabalhámos e trabalhámos e passámos imensas dificuldades, antes de termos um lugar ao sol, os que tivemos a sorte, o empenho, de o conseguir. Porque há tantos que nunca tiveram essa oportunidade.

Nós lutámos por melhor, mas lutámos desde muito cedo, nas faculdades, não numa ou noutra manifestação, mas todos os dias.
A geração rasca, lutou também nas faculdades, muitas e muitas vezes e conseguiu resultados: as propinas que se negavam a pagar não foram tão caras como o que queriam impor.
A geração à rasca começa a contestar tarde e, é bom que pense que uma só manif não faz qualquer mossa, embora a de sexta-feira estivesse cheia de gente, não só de jovens, que estão à rasca.
Pensar que podemos ceder-lhes o passo é utopia. Somos uma geração que ainda tem muitos anos pela frente antes de poder sonhar com a reforma, que vai ter de continuar a trabalhar, quer queira ou não.
Todas as gerações pensaram que facilmente fariam melhor do que as anteriores e é bom que queiram fazer mais e melhor, é bom que o tentem, melhor ainda se o conseguirem, mas comecem já, sabendo no entanto que a crise mundial foi feita para baixar salários e provocar desemprego. Não pensem em ordenados chorudos, não vai havê-los pelos muitos anos mais próximos, se o sistema continuar igual.
Mudem-no! Tentem mudá-lo, mas saibam que têm que trabalhar muito para o conseguirem.

2 comentários:

Só comigo disse...

Dou toda a razão. No entanto, nem sempre há hipóteses mesmo "por baixo", e haver ordenados chorudos também os há. Depende, por exemplo, se os pais, mesmo não lembrando tudo o que escreves, se lembraram por exemplo de assegurar uma empresa para o filho...entre outras coisas. Eu tenho emprego no entanto reclamo e acho que sou uma "desenrascada" e não "à rasca".

doce laranja amarga disse...

Reclamar é bom e acho que todos o deveríamos fazer.
Sempre reclamei.e não estou nada arrependida.
Ter uma empresa onde empregar um filho é um caso excepcional e o pai corre o risco, se o filho não for um bom 'empregado' de ficar com uma empresa cada vez menos valiosa, ou mesmo falida.