01/03/11

Comprar ou alugar casa 4



Há muitas pessoas que optam por vender a casa mesmo ao preço da uva mijona do que a alugar, por terem medo que lhes deixem de pagar o aluguer e mesmo com a modificação da lei ainda demora um ano até se conseguir pô-los fora.
Há o lado do inquilino, que por estes medos já lhe pedem quatro meses de pagamento adiantado.
No Brasil proliferam os seguros de aluguer: comprometem-se perante o proprietário a pagar, mesmo que o inquilino o deixe de fazer. O inquilino por sua vez não precisa de fiador nem de pagar nenhum mês adiantado, além de outros bónus, que diferem de seguradora para seguradora.
O resultado foi o aumento exponencial do mercado de aluguer de habitação.
Porque será que as seguradoras em Portugal ainda não começaram a ajudar o cidadão?

2 comentários:

argumentonio disse...

sem dúvida que há espaço para uma intervenção construtiva e dinamizadora das seguradoras - se bem que, tal como para os bancos, há limites para o risco, poucas formas de o segurar e má fama para este ramo de seguro na dificuldade da sua afirmação, além de que tanto para o sistema de seguros como para outras garantias, incluindo o fiador, é fundamental o funcionamento da administração da justiça, com padrões de celeridade incompatíveis com o mínimo exigível

mas é curioso lembrar que nos muito "antigamentes", a prática generalizada do recurso ao arrendamento baseava-se na segurança do "fiador" - todos os inquilinos tinham um fiador

o sistema assentava na organização económica e social de então: muitas pessoas saíam de casa dos pais e arrendavam uma "parte de casa", incluindo casais ou mesmo famílias; mais tarde arrendavam a sua própria casa e mudavam de casa à medida que a família crescia ou diminuía e os rendimentos aumentavam ou diminuíam, sucessivamente - o caso do Fernando Pessoa, que passou a vida em mudanças, era comum e frequente

a vida autónoma organizava-se desde mais cedo, com muitos jovens a entrar no mercado de trabalho ainda na adolescência e, depois de alguns tirocínios e trabalhos, encarreirava-se num emprego e numa profissão, não raro exercida numa só empresa ao longo de toda a vida

deste modo, constituía-se um referencial de estabilidade e reconhecimento que permitia o funcionamento do sistema de fiador, geralmente o patrão ou um comerciante da zona, pessoas e famílias que se conheciam, muitas vezes há várias gerações

os contactos e relacionamentos estabeleciam-se através de "cartas de recomendação", a partir de laços familiares, de vizinhança ou de conterraneidade - ser "patrício" era uma porta aberta

isto hoje não existe - não há empregos estáveis, as pessoas não se conhecem, muito menos as famílias

mas também já não existe o sistema de estratificação social - os proprietários, os patrões, os padrinhos, os regedores, os comerciantes de bairro

são outros tempos e a precarização dos relacionamentos (sociais, laborais, empresariais, etc) bem como o ritmo frenético de vida mais a ânsia e o jugo do ganho imediato, em tudo, condicionam a regulação social, minando a convivência e a confiança

e sem confiança, é difícil o desenvolvimento do arrendamento, que assim não interessa a proprietários nem a inquilinos mas também não interessa aos bancos (ficam sem a garantia real, antes querem colocar o risco na aquisição) nem aos seguros

em contrapartida, desenvolveu-se bem o sistema de crédito para a compra de habitação (para o imobiliário em geral) e é uma alternativa ainda razoável, apesar dos tempos menos entusiasmantes que actualmente vivemos, esperemos que melhorem as condições e a economia em geral, embora seja também preciso trabalhar mais e correr alguns riscos

;_)))

doce laranja amarga disse...

Bem vindo!

A questão, Argumentonio, em relação ao crédito à habitação, como disse num post abaixo, é que a dívida das famílias é principalmente por comprarem casa.
O crédito chegou-se a fazer, não sei se o fazem ainda, a cinquenta anos.
Cinquenta anos!!!!
Um jovem de trinta fica a pagar casa até aos oitenta!
Não é possível, não deveria acontecer.

Neste momento há já um bom mercado de aluguer de casas que deveria ser aproveitado e até a muito bom preço.